Família de autista enfrenta dificuldades para matricular criança em escolas de Manaus

Família de autista enfrenta dificuldades para matricular criança em escolas de Manaus

Mesmo com a existência da lei federal nº12.764, família do menino Luís Miguel Vale, após várias tentativas consegui matriculá-lo em uma escola particular da Zona Sul da cidade




Há dois anos o menino Luís Miguel (7), estuda em uma turma regular, em uma escola da Zona Sul de Manaus (Maris Sanne)
A escolha de pais de crianças autistas por escolas de educação especial não é reflexo de conformação, mas sim da busca pela única opção, na maioria dos casos, para seus filhos, pois são as únicas que atendem às demandas desses alunos “especiais”. Porém, a auxiliar de escritório Ana Sérgia do Vale, 25, preferiu não ir por esse caminho e correu atrás do direito do filho Luís Miguel, 7, que tem autismo, de estudar numa escola de ensino regular.
Foram várias tentativas frustradas para tentar matriculá-lo. “Eu sofri muito preconceito quando procurava as unidades de ensino. Na época, ainda não tínhamos a confirmação de que o Luís era autista, então eu dizia que suspeitava até que fosse confirmado pelos médicos. Ainda assim, as escolas não aceitavam matricular o Luís”, contou Ana Sérgia.
Para a família, Luís era apenas uma criança reservada e por isso não interagia muito com as pessoas. É o que relata a avó do menino, a dona de casa Sônia Maria Cardoso, 55. “Ele era muito quieto e por isso tínhamos certo receio de colocá-lo na escola, porque crianças geralmente são bem agitadas. Foi aí que percebemos a necessidade de levá-lo a um psicólogo, que o encaminhou para o neurologista e confirmou o autismo”, disse.
Mesmo com as rejeições, Ana Sérgia não desistiu de tentar matricular o filho numa escola de ensino regular até conseguir na escola particular Ciec Sul, localizada na rua Urucará, bairro Cachoeirinha, Zona Sul.
“Há dois anos que ele estuda numa classe com crianças que não são autistas. A escola se mostrou disposta a se adaptar com o Luís. Hoje ele conversa mais com as pessoas, já sabe ler e escrever. E está se desenvolvendo bem”, contou a mãe do menino, entusiasmada.
Exemplo
Para o diretor-presidente do Instituto Autismo no Amazonas, Joaquim Melo, a história de Ana Sérgia é de heroísmo. “Muitos pais quando vão matricular seus filhos autistas em escolas de ensino regular recebem um ‘não’ como resposta. Mas é aquele ‘não’ que vem subentendido ao falarem que a escola está despreparada ou que não tem mais vagas para esses alunos”, disse.
Melo ressaltou ainda a importância de os pais de crianças com autismo conhecerem o direito dos seus filhos, referindo-se à lei federal 12.764 sancionada em 28 de dezembro de 2012 pela presidenta Dilma Rousseff, que criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo.
"Essa Lei Prevê as penalidades quando a escola de ensino regular não aceita matricular um aluno autista. Uma Lei de inclusão já previa que o autista deveria ser aceito em ensino regular. Tanto que algumas instituições de educação especial já não aceitavam se a criança já estivesse tendo acesso ao ensino regular. Essa lei federal chegou para reforçar esse direito das crianças autistas. Mas ainda existe essa discriminação".
"A lei não prevê um prazo para que os pais esperem as escolas estarem preparadas. O benefício ao autista, por ter uma dificuldade com a interação social, quando passa a frequentar a escola é que ele terá essa oportunidade de interagir com as pessoas. Às vezes os discursos de alguns profissionais de educação apontam apenas que o objetivo é só a socialização. Mas é muito mais que isso. É também para aprender a escrever, a ler e fazer outras atividades que ajude o desenvolvimento dessas crianças. Às vezes o aluno chega no primeiro dia de aula e o professor não é avisado sobre o aluno autista, e isso faz com que a escola e o aluno passem por uma dificuldade de adaptação. Tem unidade de ensino que consegue reverter a situação, em outros casos os pais acabam desistindo. A escola alega que ela não está preparada, mas se esse aluno autista não chegar à escola, ela nunca vai se preparar".


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